Do mar à fronteira com a Argentina. Essa foi a proposta da sétima
edição do Desafio Aysén, corrida de aventura realizada na região de
Aysén e que além dos anfitriões chilenos, contou com a presença de
atletas do Brasil, Argentina, Uruguai e Equador.
Os participantes de La carrera + hermosa de Chile enfrentaram
uma das edições mais dificeis de todas, com um percurso que passou por
todos os ecossistemas da região de Aysén, incluindo 3 áreas silvestres
protegidas pelo Estado, enfrentando todo o tipo de terreno e variações
climáticas comuns da Patagônia.
Centro Cultural Puerto Aysén © Wladimir Togumi
Com o objetivo de ser parte do AR World Series em 2017, esta edição da
corrida passou a ter uma categoria de quartetos (Elite) em formato
non-stop e o percurso foi aumentado para 400 quilômetros e duração de 4
dias. As duplas puderam participar nas categorias Expertos e
Aventureros.
A base pré-largada foi montada no Centro Cultural de Puerto Aysén, onde
as equipes fizeram o check-in e receberam seu material de prova. A
cidade estava em meio à comemoração de seus 85 anos e por 3 semanas
havia programação diária de atividades culturais e apresentação de shows
na Plaza de Armas.
O alcalde, Oscar Catalán Sánchez, fez um belo discurso na
cerimônia de abertura, montado um pequeno paralelo da história, das
dificuldades e das conquistas de Puerto Aysén com os desafios que os
atletas iriam enfrentar a partir do dia seguinte, como por exemplo a
subida ao cume do Cerro Cordón, um lugar onde muitos gostariam de
chegar.
Disse que um grupo de moradores chegou ao cume depois de
aproximadamente 10 horas e que os atletas provavelmente fariam mais
rápido. Mas brincou dizendo que ao menos puderam desfrutar melhor da
paisagem.
O briefing feito pelo organizador Francisco Vio foi rápido e objetivo,
permitindo que os atletas pudessem retornar rapidamente para suas
hospedagens e terminar os preparativos para a largada no dia seguinte.
Como sempre acontece nas corridas na Patagônia, os trekkings nas
montanhas foram determinantes para o resultado final. As subidas
íngremes, a navegação mais difícil e o clima frio com fortes ventos
exigiram muito mais dos atletas. Mas isso não significa que remar no rio
e no mar, pedalar por estradas e trilhas e escalar na rocha foram
fáceis. Para alguns, foi a primeira vez que ficaram de frente,
cara-a-cara literalmente, com uma rocha tentando encontrar um apoio
qualquer para os pés ou para os dedos da mão para vencer a seção de
escalada.
A largada promocional foi feita na Plaza de Armas com a escolta dos
Carabineros de Chile, passando pela Ponte Presidente Ibáñez e chegando
no centro poliesportivo, construção inaugurada em 2013 que conta com uma
piscina semi-olimpica onde os atletas fizeram a natação. O espaço conta
com lugar para cinco mil pessoas e é utilizado para atividades
recreativas, esportivas e culturais.
Enquanto os Aventureros e Expertos nadavam e seguiam para o Cerro
Cordón, a Elite pegava os caiaques e seguia pelo Rio Aysén até o
Pacífico. Mais tarde, as categorias invertiam as modalidades.
Com a chegada da noite, as duplas se dirigiram para o primeiro
acampamento para a pernoite enquanto os quartetos enfrentavam a
escuridão gelada em sua jornada non-stop.
Um dos trechos mais complicado para as bicicletas foi o caminho até a
tirolesa próximo ao Lago Portales.
Os últimos 300 metros do caminho que
está sendo construído em meio aos bosques tinha apenas árvores caídas e
era preciso negociar a passagem entre troncos e pequenos bambus
cortados. A única opção por ali era colocar a "magrela" nas costas e
tentar se equilibrar enquanto procurava um lugar seguro para pisar.
A prova então se aproximou da capital Coyhaique. O clima ruim não
permitiu que os atletas subissem o Cerro Cordillerano (1.669m), mas eles
não puderam se livrar do El Fraile (1.517m) e outras montanhas nos
arredores. Apesar de próximos à chegada, as equipes tiveram que fazer
ainda um longo caminho até a aduana na fronteira com a Argentina, para
depois finalizar a corrida no Passeo Horn, no centro de Coyhaique.
Na pausa entre uma chegada e outra, aconteceu o desfile de
participantes do Campeonato Mundial de Pesca com Mosca (Fly Fishing),
esporte que atrai um grande público para a região, que possui lodges
especializados nesse mercado.
A vitória na categoria Elite ficou com os favoritos da Uruguay Ultra
Sports / Gymnasio Equilibrio, formado pelos uruguaios Ruben Manduré e
Federica Fontini e os argentinos Daniel Pincu e Nico Alfageme.
"Foi particularmente difícil porque o clima na montanha fazia muito
frio e muito vento. Estamos todos molhados porque o caminho ao PC mais
alto foi dificil realmente. Por sorte tenho uma equipe de ferro, todos
muito fortes", disse Ruben Manduré.
Os brasileiros da Harpya, formada por Pedro Alex, Diogo de Sordi,
Fausto Silva e Fabiana Duarte e em sua primeira corrida internacional,
ficaram com a segunda colocação.
"Foi uma coisa muito nova, a gente nunca tinha feito uma prova
internacional, ainda mais com um clima que varia tanto como aqui na
Patagonia, mas foi muito legal ter a opção de navegar fora de trilha.
Foi uma experiência muito legal como aprendizado para uma equipe que
está se formando, somos novos como equipe. Foi um grande prazer estar no
Chile, estar na Patagonia e andar nessas montanhas e planícies", disse
Pedro Alex.
Para ele, a principal dificuldade da equipe foi com o clima. "Qualquer
pico que você suba acima de 1.000 metros, pode levar tudo que tiver de
roupa que o negócio vai esfriar mesmo."
Sobre a prova, "uma coisa que no Brasil estamos acostumados é encontrar
vendinhas ou algum lugar onde se pode comprar comida. Aqui, esquece...
Não tem nada em lugar algum. Você tem que ser totalmente auto-suficiente
com sua comida. E por outro lado, existe água em quase todos os
lugares".
Logo na canoagem inicial, a equipe passou por um sufoco a cruzar a Baía
Acantillado. "O vendo virou nosso caiaque ao cruzar a baía e tivemos
que ser resgatados pela marinha chilena. Eles queriam que a gente
abandonasse a prova, mas nós falamos que não, colocamos o caiaque de
volta na água e continuamos", comentou Pedro. "Foi meio chocante. No
PC4, na primeira modalidade, tomar um caldo no Pacifico. O caiaque voou
como se fosse uma folha de papel", disse rindo.
Fernando Rivas, da equipe Espiritu Patagonia, no posto de controle na aduana do Chile/Argentina
O Brasil também esteve representado entre as duplas com a equipe
Advogado Aventureiro, formada por Euder Mello e Xikito, que foi para o
Chile praticamente sem descanso do mundial na Costa Rica. Todos ficaram
impressionados com sua força, que em todo o percurso ajudou seu
companheiro de equipe a seguir em frente.
Mas a declaração mais divertida foi dada pela chilena Veronica Bravo.
Em um das montanhas a atleta estava com frio e, sem muitas roupas, foi
ajudada por outros competidores que lhe davam uma blusa ou um corta
vento emprestado. Quando Xikito passou, lhe deu um beijo, um abraço e
perguntou se tinha namorado!
O encerramento do evento aconteceu no Cine Coyhaique, que além da
entrega de prêmios, contou com apresentações de dança regionais.
Esta edição do Desafio Aysén contou também como inicio do recém lançado
Circuito Latinoamericano de Carreras de Aventura, que contará com
provas até o momento na Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, Peru e
Equador.
Elite
1 - Uruguay Ultra Sports / Gymnasio Equilibrio
2 - Harpya
3 - XK Race Argentina
Varones Expertos
1 - Team Bariloche
2 - Club Andino Bariloche - CAB
3 - Garmin - Latitud Sur
4 - ANSCO
Mixtos Expertos
1 - Giant Uruguay
2 - Garmin - Tamarugal XC
Varones Aventureros
1 - Espiritu Patagonia
2 - PSR
3 - Gimnasio Akivate & Aysen Aventura
4 - Varona Aventura
5 - Advogado Aventureiro
6 - Los Baguales de Puerto Aysén
7 - Los Rústicos
Mixto Aventureros
1 - Mestizos
Mais informações: www.desafioaysen.com
Informações sobre o Circuito Latinoamericano: www.aventuralatinoamerica.com
Galeria completa de fotos: http://www.adventuremag.com.br/fotos/image.browser.php?view=albm_view&albumid=1390335963&