Expansão das ciclovias em São Paulo aumenta faturamento de pequenos negócios envolvendo bicicletas
Por Natália Mito
Não faz muito tempo que usar bicicletas como meio de transporte em São
Paulo era visto como coisa de meia dúzia de loucos aventureiros. Mas
esse cenário vem mudando. Com a implantação de ciclovias na cidade as
bikes vêm se tornando uma alternativa tanto para quem busca um momento
de lazer aos domingos, quanto para quem não aguenta mais ficar parado
horas no trânsito caótico de SP.
Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas,
Ciclomotores, Motonetas, Bicicleta e Similares (Abraciclo), cerca de 300
mil magrelas circulam pela cidade diariamente. Aos fins de semana, o
número sobe para 550 mil.
Atualmente, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) aponta que a
cidade conta com uma malha cicloviária de 307,4 km, e, se depender dos
planos da prefeitura, serão entregues 400 km até o fim de 2015.
Essa mudança de concepção não mobilizou apenas ciclistas antigos e
novatos, como também empresários, que estão de olho nessa nova tendência
do público. Para o vice-presidente da Abraciclo, Eduardo Musa, o
desenvolvimento da mobilidade urbana está transformando o perfil do
usuário de bicicleta e, consequentemente, movimentando o mercado voltado
para esse setor. "São pessoas que compram bicilcletas para uso em lazer
e pequenos percursos, como ida e volta da academia", explica.
Além da venda de acessório de bicicletas e funções de oficina,
chuveiro, cafés temáticos, estacionamento para bikes e roupas
especializadas são alguns dos serviços disponíveis para os ciclistas
urbanos.
Bike café é ponto de encontro de ciclistas
Os chamados bike cafés, muito comuns na Europa, estão conquistando o
público brasileiro. Os sócios Camila Romano e Paulo Filho escolheram o
bairro de Pinheiros para abrir, em junho de 2014, o King of The Fork, um
ponto de encontro e espaço para convivência entre ciclistas. O KOF,
como foi apelidado, funciona de segunda a sábado, das 10h às 20h. Além
de ser um café temático, também vende acessórios e transmite corridas de
bike.
A ideia de empreender surgiu da necessidade de um novo estilo de vida.
Camila e Paulo se conheceram pedalando e abandonaram o emprego
tradicional em busca de mais qualidade de vida.
Camila conta que a inauguração das ciclovias não só incentivou muita
gente a começar a pedalar, como também influenciou no crescimento do seu
negócio. "Imaginamos que o movimento de ciclistas aumentou uns 25% o
movimento do café e da nossa lojinha de acessórios", estima.
Não ter onde tomar banho não é desculpa
O conceito europeu também é aposta do ciclista Fabio Perillo Samori.
Após morar dois anos em Edimburgo, na Escócia, e usar a bicicleta como
principal meio de transporte, o biólogo voltou para o Brasil com a ideia
de trazer para sua cidade um espaço dedicado ao ciclista urbano. Nasceu
assim, em 2013, também na região de Pinheiros, o bike café Aro 27.
O grande diferencial do estabelecimento é o Park and Shower, um
estacionamento com chuveiro. Como a maioria das empresas não
disponibiliza vestiários aos funcionários, muitos evitam fazer o trajeto
de bike, afinal, ninguém quer chegar no trabalho todo suado. Esse
também era um problema de Fabio, que se sentia desconfortável por não
chegar 'apresentável' nas reuniões de negócios, por isso a ideia de um
espaço que facilitasse a vida dos ciclistas nesse sentido.
Pagando R$ 9,90, o cliente pode deixar sua bike estacionada e ainda
tomar um banho. O espaço também fornece armário, sabonete líquido,
toalha, secador de cabelo e até chapinha para as mulheres.
Com um investimento inicial de R$ 350 mil e um faturamento médio mensal
de R$ 50 mil, o estabelecimento também tem uma área de café, uma
lojinha com acessórios específicos e uma oficina, que, de acordo com
ele, responde, atualmente, pelo maior faturamento da casa.
Para o proprietário, esse crescimento aconteceu devido ao boom de
ciclovias em São Paulo. "Com a ampliação das ciclovias, muita gente
pegou aquela bike encostada em casa há um tempo. Antes de comprar uma
nova, ele [o novo ciclista] vai tentar usar a antiga, logo, os serviços
na oficina aumentam", explica Fábio.
O ciclista também ressalta que a medida da prefeitura incentiva muito
mais gente a trocar o carro pela bike. "Hoje em dia é muito frequente
ouvir um cliente contando que trocou o carro pela bike, ou que vendeu o
carro para comprar uma bicicleta, por ter uma ciclovia perto de casa.
Isso [a medida] vem para possibilitar o uso de bikes nas ruas e elevar a
qualidade de vida da maior parte da população", diz.
Roupas que inibem o mau cheiro? Sim!
Também pensando nas necessidades do ciclista urbano, a jornalista Nina
Weingrill, sua mãe Claudia Pereira Weingrill e a estilista Camila
Silveira criaram uma marca de roupa que inibe o mau cheiro.
Velô foi inaugurada em agosto de 2014 e também está aproveitando essa
nova tendência. "Eu costumo dizer que foi sorte, não tínhamos ideia de
que fosse acontecer esse boom, foi mais uma vontade nossa de fazer algo
diferente. Hoje em dia, há um crescimento de procura pelo produto, não
só de clientes locais, mas também lojistas e clientes de fora", diz
Camila.
As peças, que custam em média R$ 200, são feitas com fibras sintéticas,
que são mais leves, não amassam e permitem a entrada de ar. Além disso,
a composição do tecido também tem proteção contra raios solares
(ultravioleta) e acabamento bacteriostático, que inibe a proliferação
das bactérias e o mau cheiro causado pelo suor.
Com um investimento inicial de R$ 100 mil (mais taxas), a empresa
espera ter um crescimento de 30% até o fim deste ano, segundo a
empresária.
Entrega sustentável
O avanço da cultura das bikes como meio de transporte também pode ajudar negócios relacionados a outros segmentos. A WebECOmendas, fundada em 2012, é uma empresa e-commerce sustentável que usa a bicicleta para fazer suas entregas.
O avanço da cultura das bikes como meio de transporte também pode ajudar negócios relacionados a outros segmentos. A WebECOmendas, fundada em 2012, é uma empresa e-commerce sustentável que usa a bicicleta para fazer suas entregas.
Vagner Tostes, um dos proprietários, explica que as ciclovias
contribuem para a produtividade do seu empreendimento. "Se antes
fazíamos 17 entregas por dia, esse ano, especialmente a partir de março,
o número subiu para 35 em seis horas de trabalho", aponta Tostes.
Fonte: http://economia.terra.com.br
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